Uma moça quebrou o silêncio. Reclamou da falta de espaço no
ônibus, do cobrador mal humorado e do menino ocupando o lugar reservado.
Ela nem deve perceber que é minoria.
Que é tão menos gado que a maioria, que deixou de sentir para poder seguir o
fluxo caótico que corre pelas veias de asfalto da cidade bandida.
Provavelmente ela também nem sabe que
existe remédio para aliviar a rotina. Buscamos a nossa recompensa, como bichos
condicionados que somos, no buteco amigo da esquina. Onde a gente toda
exibe olhares amansados, emoldurados em olheiras cinzentas. Onde abrem
sorrisos quadrados durante algumas horas e, finalmente, encerram o dia. Porque
até a boêmia é cansativa.
Por aqui, tudo cansa, tudo limita. Dá para
se sentir livre com tantos prédios comprimindo o mundo ao nosso redor? Com
tanta recompensa que não serve para nada, que só faz gastar nosso dinheiro, que
só faz girar a engrenagem desse sistema voraz?
Que vontade de quebrar o silêncio também.