22 de maio de 2014

São Paulo

Uma moça quebrou o silêncio. Reclamou da falta de espaço no ônibus, do cobrador mal humorado e do menino ocupando o lugar reservado. 

Ela nem deve perceber que é minoria. Que é tão menos gado que a maioria, que deixou de sentir para poder seguir o fluxo caótico que corre pelas veias de asfalto da cidade bandida.

Provavelmente ela também nem sabe que existe remédio para aliviar a rotina. Buscamos a nossa recompensa, como bichos condicionados que somos, no buteco amigo da esquina. Onde a gente toda exibe olhares amansados, emoldurados em olheiras cinzentas. Onde abrem sorrisos quadrados durante algumas horas e, finalmente, encerram o dia. Porque até a boêmia é cansativa.

Por aqui, tudo cansa, tudo limita. Dá para se sentir livre com tantos prédios comprimindo o mundo ao nosso redor? Com tanta recompensa que não serve para nada, que só faz gastar nosso dinheiro, que só faz girar a engrenagem desse sistema voraz?

Que vontade de quebrar o silêncio também.