A madrugada tem algo de louca. Não segue horários. Permite que flutuemos nela, embalados pelo seu silêncio aterrador que nos deixa alerta e revela detalhes nunca antes vistos.
A madrugada vigila. Faz a escolta das nossas almas desprendidas até o limbo. Onde finalmente estão livres para criar lembranças e recordar futuros.
Nem os corpos despertos estão isentos disso. Pois a mente vaga fluída, desfeita na hora mais escura do dia.
Zumbi da madrugada. Com olhos vidrados. Refletores do brilho estático da TV. Refletores das letras ilegíveis a meia luz da luminária âmbar para não desrespeitar o que é noturno.
No fogão, a água ferve e a chaleira grita. A cabeça está pesada e as mãos não têm firmeza. A última esperança é que o capim cidreira cumpra, em meu lugar, a função de desligar o meu corpo. Há muito que perdi o domínio sobre mim mesma. Meu corpo é mais teimoso do que eu.
O céu ganha um tom acinzentado. Pela janela entra uma brisa fresca. A madrugada se despede e o som do despertar das coisas da terra, invade todos os espaços que estiverem descobertos. Ele também não pede licença.
Meu corpo desliga.
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