Benedita tá confusa
Certo dia Benedita foi ao açougue
comprar carne e trouxe peixe
Em outro, foi à padaria
comprar pão e trouxe alface
Depois foi à banca
comprar jornal e trouxe caneta
E então foi à boutique
comprar calcinha e trouxe cueca.
Sei pai falou:
- Cueca Benedita? Aí já está ficando estranho.
Benedita continuou.
Foi comprar suco e trouxe leite.
Foi comprar leite e trouxe cerveja.
Foi comprar cerveja e trouxe um bolo.
Sua tia falou:
- Benedita deve estar com febre. Está confusa. Tô com medo.
Benedita continuou.
Foi namorar José e trouxe o João
Foi namorar João e trouxe o Juca
Foi namorar o Juca e trouxe a Jandira
Sua psicóloga falou:
- Ah! A Benedita tem alguma coisa com a letra J.
Benedita continuou.
Foi trabalhar e trouxe areia no pé
Foi à praia e trouxe mato na canela
Foi ao mato e trouxe poluição na cara.
Seu avô falou:
- Benedita vai mudar pra São Paulo.
Benedita não mudou não, e continuou.
Foi à igreja e trouxe o pecado
Foi à delegacia e trouxe o crime
Foi ver a ordem e trouxe a bagunça
Sua vizinha falou:
- Vamos internar Benedita!
Mas Benedita continuou
Continuou mudando de ideia,
Mudando, mudando, mudando
Foi até atrás da morte!
Mas roubou-lhe a foice e se trouxe de volta.
Sua mãe falou:
- Oh! Benedita vive!
Benedita ergueu a foice e rasgou o mundo
Ele se fez em dois, mudou de ideia
E o fez em quatro, seis, oito.
Fez o mundo em picadinho,
Então se dividiu também.
Benedita enfim se decidiu, queria colar de volta
Mas era tarde, dividira muita coisa
Voltou a ficar confusa,
Pois sobrou tudo muito miúdo
Então ela desistiu, e explodiu seu mundo
E Benedita ficou do jeito que gosta. Infinitas poeirinhas do que já tinha sido um dia. Milhões de opções de se reinventar.
Muito bom! Parece-me que estamos neste momento mesmo: de nos picotarmos em pedacinhos e nos reinventarmos numa nova e mais aprimorada versão.
ResponderExcluirParabéns!
Que assim seja! Obrigada pelo comentário. =)
ExcluirMuito bom...
ResponderExcluirAs vezes cada um de nós é um pouco Benedita...
E, em outra vezes precisamos ser muito Beneditas. Obrigada pelo comentário, Martinha. Bjs.
Excluirlindo poema! parece-me da veia poética de um poeta ateu que gosto muito Joan Reventós i Carner ( Joan Reventós). Nesta figuração simbólica "infinitas poeirinhas" contrapondo-se à " milhões de opções" , para mim está a beleza e a síntese da vida, nossa vida, dita poeticamente. somos milhões de poeirinhas com infinitas opções de nos reinventar...Li o Gênesis. beijinhos. marina trindade
ResponderExcluirObrigada pelo comentário, Marina. Não conheço Joan Reventós, mas já vou tratar de ler seus escritos. Seja sempre bem vinda aqui. Bjs
ExcluirBenedita é a síntese de nossas indecisões existenciais. Divide quando quer somar, fica, quando quer partir. Tem algo mais humano que esse desassossego? LINDO POEMA Dadinha
ResponderExcluirO negócio é estar sempre em movimento. Obrigada pelo comentário! :***
ExcluirBelíssima Benedita, como eu, que como-me aos pedacinhos...
ResponderExcluirCara benedita...
Um carinhoso abraço.
Se fazer em pedacinhos para ser o que quiser. Obrigada pelo comentário!
ExcluirBendita benedita!! Parabéns pelo belo poema...
ResponderExcluirObrigada, Giovani. Seja sempre bem vindo aqui. Abraços!
ExcluirLindo!
ResponderExcluirObrigada pelo comentário, Luana!
ExcluirA Benedita de todos nós. Parabéns!
ResponderExcluirObrigada, querida Katia! =)
ExcluirBenedita poesia, sempre nos trazendo belas surpresas. Bem que o Gilson me falou bem de você. O homem tem olho clínico, rs.
ResponderExcluirObrigada pela leitura, Tião! Seja sempre bem vindo ao blog. Abraços!
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