Eu costumava ser uma criança um pouco sombria. Eu brincava de morte: ficava parada com os olhos arregalados pensando em nada. Tinha morrido mas ainda podia enxergar com meus olhos mortos. Eu acreditava naquilo. Nada me fazia crer que eu voltaria, e essa consciência cadavérica ou... espiritual, me fascinava.
Eu estava morta.
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Andando na rua, já é escuro e tem muita gente; lotando os bares e inferninhos pra escapar. Riem. Bebem e se mostram felizes. Felicidade que eu não consigo enxergar com meus olhos rasos. Meus olhos mortos. Só enxergam fuga.
Escape. De vida.
Sento num desses e alguém está comigo. Conversamos. Mas eu não sei quem é. Eu não estou aqui. O copo brinca de sair da mesa dezenas de vezes. Eu falo insignificancias.
Faço meu papel.
Assim como todos.
Eu me viro. Lá está a rua. Curiosamente comum, mas, potencialmente perigosa. Deixo vagar o olhar e o pensamento (aquele que prova a minha existência). Volto pro copo. Agora contém um liquido quente e enjoativo.
Me traga mais um!
Quero gelado pra disfarçar o gosto.
A rua. Pontecialmente perigosa.
A antiga brincadeira sombria...
Brincar de morrer, Maria.
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