O ônibus parou no ponto e, como é de costume, subiram uns quatro passageiros, só que desta vez seguidos por uma cadelinha.
A bichinha ficou lá, num canto, toda na dela, enquanto os passageiros bradavam exaltados “meu Deus, tem um cachorro no ônibus!”. Ela tinha seguido uma moça que, ao sentir-se responsável pelo ocorrido, resolveu buscar ajuda pelo telefone.
Mas, antes que a moça pudesse resolver a situação, o cobrador se levantou e, cheio de incompreensão em sua mão, deu três jornaladas na traseira da vira-lata. A bichinha ficou furiosa! Não pensou duas vezes e avançou no moço. O que foi muito justo, obviamente. Não é por que ela não tinha dinheiro pra passagem que deveria ser tratada com menos dignidade que os outros.
A moça permanecia aflita com cara de quem não tinha solução pro caso. Mas não ligou muito para as condições precárias as quais a cachorra fora submetida.
Cinco pontos se passaram e a cadela resolveu explorar o veículo. Foi aí que o ônibus parou para pegar mais passageiros. Um deles, inconformado por ter que dividir o transporte com um animal, que ainda por cima era de rua e não pagou passagem como os outros passageiros de bem, deu pontapés na criatura humilhando-a até a calçada.
Todos permaneceram imóveis diante da brutalidade do homem. No fundo, ninguém se importava com o destino da criatura. Queriam apenas um desfecho da situação incômoda. A moça, ao perceber que perdeu destaque no desenrolar do episódio, desligou o telefone e seguiu sua vida. E eu fiquei com uma dúvida corrosiva: "será que era nesse ponto mesmo que ela queria descer?".
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