17 de abril de 2015

por trás do sorriso
largo
de dentes grandes
                            amarelados pelo café
se contrai
ardido
um estômago
que não sabe digerir

e

um
fígado distraído
por algumas taças de vinho
para não ter que
fazer o seu trabalho
miserável
de processar as
emoções
que insisto em engolir

então

algumas
vazam
e
outras
apenas correm impacientes pelas
veias
nervos
           e todas essas estradas que existem em nós
até que
param
e
superpovoam
as minhas mãos
irrequietas,
cheias de nós e linhas estranhas que eu não sei ler

elas

se acalmam
quando o meu polegar oponível
                                                (que certamente não evoluiu para isso)
pinça mais uma taça de vinho
e dá continuidade ao ciclo
da
fuga
sem fim

16 de abril de 2015

vontade de fincar os pés,
como se fossem raízes,
nas nuvens
e, nesta condição,
desfazer-me com o vento,
precipitar-me com a água
e deixar de existir
de maneira tão sólida,
implacável,
saturnina
para que eu possa
transcender aquela esquina

15 de abril de 2015

tem
uma
dor
tão dor
tão inacessível
que sequer lateja
nos lugares doloridos de sempre

não
expurga
não
sutura
não some

não a vejo
não a sinto
e
ainda assim
continua lá
a pequena maléfica
com as unhas fincadas nas entranhas
daquilo que chamam de alma


26 de março de 2015

quando o coração se abre, as sinceridades vazam

o meu rosto é palco de não preocupar as pessoas, de sorrisos ensaiados, de olhos tristes e agoniados que disfarço atrás de um rímel qualquer

a minha fragilidade
g   r   i   t   a
através da corrente sanguínea
e violenta
de arritmia
o meu coração negligenciado por mim

e então eu desmaio
de amor próprio delével

é um recurso desesperado para eu não ter que sentir